Em 2001, praticamente
não existia reality shows no Brasil. A MTV exibia o “Na Real”,
para um pequeno público que era assinante, a Globo tinha feito uma
pequena tentativa com o “No Limite” (chupado diretamente do
“Survivor” americano) mas as experiencias se limitavam a isto.
Tudo isto mudou em Outubro de 2001. O motivo? Silvio Santos, com seu
canal o SBT resolveram fazer uma aposta e trazer para o público a
“Casa dos artistas” (que de artistas mesmo tinha poucos) e ser o
primeiro grande reality show do Brasil.
A estreia foi marcada
com muito mistério e uma certa dose de suspense. Também pudera, o
programa tinha óbvias semelhanças com o então desconhecido “Big
Brother” da holandesa Endemol. Ambos se passavam em uma casa, com o
mesmo número de participantes. As regras eram bem parecidas. Cada
semana um era eliminado e eles não poderiam ter acesso a itens como
televisão, relógio ou coisas do tipo.
O programa estreou em
um domingo, 28 de outubro de 2001. Silvio recebeu os convidados em um
palco e em seu programa e pouco a pouco foi apresentando cada um
deles. Como o formato ainda não era totalmente conhecido, havia um
ar de novidade no programa que não se vê mais nos realities hoje. É
bom lembrar que na época, não havia a concorrência de netflix,
internet e TV por assinatura tinha um público menor.
Entre os “artistas”
estavam Alexandre Frota, ator de idas e vindas na Rede Globo; Supla,
retrazido ao sucesso por Marcos Mion, graças aos “Piores clipes do
mundo”; Leandro Lehart, vocalista do Art Popular; o ator Taiguara
Nazareth, já inaugurando a regra das cotas dos reality shows; Mateus
Carrieri e Marco Mastronelli.
Entre as mulheres,
Alessandra Scatena; assistente de palco do Gugu; Núbia Ólliver (que
na época se chamava Oliveira, eu acho); Mari Alexandre; Patricia
Coelho; Nana Gouveia e uma então desconhecida Bárbara Paz fechando
o time da mulheres. Como se vê, artistas não era o forte dessa casa
mas deixa pra lá.
Silvio apresentou os
participante um a um e mandou todos para uma casa com câmeras 24
horas no Bairro do Morumbi em São Paulo. A coisa era tão incipiente
que nem sequer havia um pay-per-view que filmasse o programa 24 horas
por dia (passou a ter algum tempo depois, graças ao sucesso do
programa). Sendo exibido à noite, no horário nobre, o programa
rapidamente começou a incomodar a emissora do plim-plim que via (e
com razão) as enormes semelhanças com o “Big Brother”,que
estrearia na Globo somente em Janeiro.
Quando estreou o
programa rapidamente se tornou um sucesso. O público, até então
não acostumado com aquele tipo de show passou a se divertir em ver
um grupo de pessoas dentro de uma casa interagindo umas com as
outras. Vale lembrar que os próprios participante não eram
acostumados com reality shows. Ou seja, a participação deles era
muito mais autêntica do que se viria em realities posteriores. Não
se tinha aquela sensação de “mais do mesmo” que se tem quando
vai começar mais um “BBB” ou “A fazenda”...
Por mais que muitos o
odeiem, Alexandre Frota foi o grande destaque no início. Fazendo
manipulações e falando pérolas como “Mari... ela é a mulher do
Vavá”, certamente contribuiu (e muito) para os bons índices no
Ibope. Supla e Bárbara Paz começaram a engatar um romance, o que
também foi mais um fator de sucesso junto ao público, ainda
desacostumado a tal ideia.
Alguns problemas também
ocorreram. Na primeira votação, os participantes tiveram acesso a
opinião do público, trazendo à tona a manipulação que Frota havia
feito para eliminarem Alessandra Scatena. Ficou claro que não havia
uma preparação nem uma antecipação de que aquilo ocorreria. Como
resultado, Frota resolveu sair mas voltou 2 dias depois (!) graças à
intervenção do dono do baú. Ele sabia que sem ele, o programa não
seria a mesma coisa.
Além disso, o programa
também saiu do ar durante alguns dias devido a uma ação da Rede
Globo que considerava o programa plágio do Big Brother. Algum tempo
depois, o programa voltou ao ar para não sair até seu final em
dezembro de 2001.
Em um mundo com
internet discada, sem sms, sem twitter, sem whatsapp, sem hashtags, a
forma de votação era bem simples. 20 pessoas ligavam para o
programa e conversavam com o Dono do Baú e votavam nos indicados e
justificavam seus votos, ou seja uma margem mínima no número de
telespectadores. Mesmo assim, foi o modo de votação até o final.
Casa dos Artistas foi
um sucesso magnífico, capa da Veja e nos domingos, dia da
eliminação, o Fantástico sofria com o programa, levando sucessivas
derrotas na audiência. Bárbara Paz acabou ganhando o prêmio, na
época de R$ 300.000,00 (uma boa grana), mas não seguiu adiante seu
romance com Supla. Fez a pavorosa novela “Marisol” no mesmo SBT,
Frota e Matheus Carrieri foram fazer filmes pornôs, Núbia e Mari
Alexandre foram posar nuas de novo e o programa teve outras edições
sem o mesmo sucesso da primeira edição.